Num momento de crise, Maria procura uma taróloga para tentar obter respostas e algum alívio da ansiedade e angústia que lhe apertam o peito. No horário marcado chega a uma casa simples, senta-se à mesa e a taróloga, em questão de minutos, começa a contar detalhes sobre sua vida presente, passada e futura. Após uma hora e meia de conversa, percepções, previsões e orientação, Maria deixa a mesa sentindo-se aliviada e mais confiante de qual caminho deve seguir nesse momento.
Essa cena é muito comum no mundo todo, há centenas de anos. Conta-se que o próprio Napoleão Bonaparte tinha o costume de consultar as cartas, e teve sua ascenção e divórcio previstos através delas.
Embora muitas explicações sejam dadas sobre o mecanismo que faz uma pessoa desconhecida ser capaz de conhecer detalhes da sua vida com as cartas nas mãos, a verdade é que o funcionamento do tarô está no campo do fenômeno. Temos algumas pistas de como esse ele se dá, mas, em verdade, nenhuma explicação é definitiva. A explicação que você lerá nesse artigo se baseia no entendimento dos arquétipos e símbolos.
futuro ou passado?
Pense na família humana como uma grande alma. Essa alma vem atravessando milênios através da vida de homens e mulheres que , munidos de seu instinto de sobrevivência e necessidade de evolução, criam novas soluções para os desafios que enfrentam. Muitas vezes essa alma experimentou o sucesso, em outras o fracasso. Somo parte dessa alma, influenciados pelo passado e pelo entorno, nossa história está ligada à história dos demais.
Sucessos e fracassos deixam frutos e consequências para as próximas gerações. Talvez você já tenha nascido numa cidade urbanizada, com água encanada, energia elétrica e asfalto, portanto, usufrui dos frutos do trabalho daqueles que vieram antes. E os que vieram antes também não começaram do zero, mas herdaram o conhecimento e os benefícios deixados pelos seus predecessores.
As imagens simbólicas do tarô se relacionam com a memória dessas histórias. Embora seja muito conhecido o uso do tarô para prever o futuro, quando olhamos suas imagens estamos olhando para o passado, para os caminhos abertos pelos que vieram antes. É como se os significados expressos em cada imagem e carta dissessem: no passado, histórias parecidas com a sua acabaram assim.
então estamos só repetindo?
Em princípio, sim. Qualquer que seja a situação que você esteja passando, ela guarda semelhanças com milhões de outras histórias do presente ou do passado. E isso normalmente não preocupa as pessoas, exceto quando a repetição é dolorosa, sofrida, destrutiva. Prever o futuro sem enxergar o presente e entender o passado só funciona enquanto as previsões estão de acordo com o que se deseja.
É por isso que uma taróloga, conhecendo os símbolos do tarô, é capaz de contar em detalhes o que está acontecendo e o que acontecerá em sua vida. Isso já aconteceu antes. Você não se importa quando está repetindo a felicidade e bem aventurança, mas se desespera quando repete dificuldades. E mais do que isso, talvez considere-se inocente diante do mal, sem entender o que está acontecendo, vítima de um destino.
Mas a vida não funciona só à base de repetição cega, é possível criar novos enredos. Você pode viver a mesma situação de maneira inconsciente ou de maneira consciente. Na inconsciência você chama o que acontece de destino, na consciência, você entende como foi parar aí, e tem mais recursos para sair, se quiser.
o que você evita controla sua vida
“Mas Ana, eu quero sair dessa situação! Eu só não consigo!” sim, eu sei. Quando você se vê impedido, paralisado e estagnado na vida é porque você está evitando encarar o que é necessário para sair da situação.
O movimento de evitação pode acontecer por diferentes motivos: crenças rígidas, lealdade aos princípios e dores familiares, exclusão de aspectos de si mesmo e de pessoas na família, etc. Para ilustrar: a Rainha de Espadas apareceu numa tiragem para uma cliente que não conseguia concluir a partilha de bens num processo judicial que corria a anos. “Não vou ser como minha mãe”, ela disse. Perguntei como era a mãe. “Egoísta, só pensa nela mesma.” Perguntei como ela se comportaria numa situação assim. “Ela jamais se colocaria numa situação assim, já teria resolvido desde o início.”

A negação da mãe e a promessa feita de jamais ser como ela era o que mantinha essa consulente na paralisia. Para resolver o processo ela precisava ser capaz de cuidar dos próprios interesses, mas isso envolvia olhar para o relacionamento com a mãe, e a dor envolvida. Nesse caso, sem o enfrentamento dessa dor, a mulher não encontraria a solução para sua questão, ou precisaria se conformar com o que lhe fosse dado, repetindo o destino das mulheres boazinhas, diferentes de sua mãe.
A Rainha de Espadas, com sua imagem forte, austera, fria e independente surgiu como o símbolo que a consulente precisava para sair da situação. Sabemos que era disso que ela precisava, principalmente, porque tocou seu coração: a dor da relação com a mãe não podia mais ficar escondida como se estivesse resolvida. Era preciso enfrentar. Dessa forma se sai da unilateralidade, que é a escolha que fazemos de não viver determinadas coisas, sentir certos sentimentos, ser desse ou daquele jeito. A unilateralidade nos tira a força que existe justamente naquilo que evitamos, e nos deixa à mercê das forças externas.
mas como cartas tiradas ao acaso podem ser as certas?
Essa é a parte que não sabemos explicar exatamente como acontece. Mas temos pistas. Numa linha de pensamento junguiana, temos a realidade exterior como um grande símbolo da nossa realidade interior. O que chega até nós, segundo essa linha de pensamento, é o que precisava chegar para o nosso desenvolvimento. Bom ou mau, coerente ou incoerente, o que acontece atende o chamado interno da alma.
Entender o funcionamento do tarot como um fenômeno ainda inexplicado não impede de se beneficiar dos seus efeitos.
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