A Rainha de Espadas – significados sistêmicos

Na Imagem: Tarot art Emily Balivet, Queen of Swords

A Rainha de Espadas apareceu numa tiragem para uma cliente que não conseguia concluir a partilha de bens num processo judicial que corria a anos. “Não vou ser como minha mãe”, ela disse. Perguntei como era a mãe. “Egoísta, só pensa nela mesma.” Perguntei como a mãe se comportaria numa situação assim. “Ela jamais se colocaria numa situação assim, já teria resolvido desde o início.” Essa história, que você pode entender melhor aqui, ilustra a principal qualidade da Rainha de Espadas, que é saber colocar-se como prioridade. 

O fato de a Rainha de Espadas ser vista muitas vezes como uma carta negativa tem a ver com o papel que foi relegado às mulheres através do estímulo de características como a empatia, o auto-sacrifício e o cuidado de outras pessoas. Num mundo que espera que as mulheres sejam tudo para todos, não é de se estranhar que a mulher que se prioriza seja vista como fria, insensível, pouco nutritiva e às vezes amargurada. Especialmente quando ela não faz questão de manter as aparências ou as convenções para relacionar-se ou sustentar situações. 

Como age a Rainha de Espadas?

É importante entender que as cartas da corte descrevem 16 tipos de personalidade. São maneiras de ser e estar no mundo, fruto da herança ancestral, das experiências vividas na infância e do amadurecimento. A personalidade da Rainha de Espadas expressa sua racionalidade de maneira feminina e amorosa, quando bem dignificada. Ela é a mais inteligente de todas as rainhas.

Essa Rainha não se perde naquilo que sente, nos seus desejos e impulsos, porque sabe que existe uma lógica por trás de cada ato e cada escolha. Sabedora das leis invisíveis e subentendidas, não se submete, e faz sua própria lei, doa a quem doer. Ela não se deixa levar por impulsos fugazes e momentâneos. Pode ser lida como fria e indiferente, e às vezes até mesmo amarga e sem coração. Quando demonstra afeto isso também tem um significado racional, afinal ela também não se entrega completamente a ninguém.

Essa Rainha fala da fase de empoderamento pessoal (especialmente o feminino) quando precisamos ouvir a voz da razão antes de qualquer outra. Por ser feminina na manifestação, ela não é de enfrentamentos e confrontos diretos, mas ao priorizar-se, modifica profundamente sua realidade e seu entorno. Quando nos aprofundamos na abordagem sistêmicas dessa carta, podemos entender melhor a natureza dessa mulher.

O que é a abordagem sistêmica?

Nessa abordagem, entendemos que nosso destino se constrói a partir da história pessoal e ancestral. O que aconteceu na sua família molda o seu comportamento, e,portanto, também vai determinar o seu destino. Quando olhamos nossa história através das cartas do tarot, estamos olhando para as histórias parecidas que aconteceram antes na nossa família. Temos, então, a oportunidade de fazer escolhas mais conectadas com nossas necessidades do momento, criando conscientemente nosso destino, e reduzindo o sofrimento e a sensação de impotência.

As cartas da corte representam, numa tiragem integrativa sistêmica, as características de personalidade que desenvolvemos para sobreviver, que nos fazem semelhantes aos nossos ancestrais e familiares e também as características que deveríamos desenvolver para fluir com mais facilidade na vida.

A Rainha de espadas de Frieda Harris e Aleister Crowley remete, em sua simbologia, à libertação feminina de crenças, ideias e dogmas ultrapassados. 

O que aconteceu com a Rainha de Espadas?

Do ponto de vista sistêmico e ancestral podemos pensar na Rainha de Espadas como a mulher que cansou. Cansou de obedecer, de ser tudo para todos, de ser subestimada, cerceada, regulada, abusada, violentada e morta. E porque cansou, rompeu com os padrões que a submetiam (geralmente patriarcais e arcaicos). É por isso que, no Thoth Deck Tarot ela está de pernas abertas, seios à mostra, com a espada numa mão e a cabeça de um homem na outra. Talvez Aleister Crowley e Frieda Harris tenham se inspirado em Kali, a deusa Hindu que representa a aniquilação  e que se veste com um colar feito de cabeças humanas decepadas. 

O decepar a cabeça, como imagem simbólica, sugere a transformação dos processos que ali ocorrem e que dirigem todo o corpo e sociedade. Kali, enquanto símbolo do feminino aniquilador que lambe e digere o sangue do demônio Raktabija, nos fala sobre a necessidade de uma ação firme e impiedosa em relação ao mal que surge em nossas vidas, não apenas fora, mas dentro de nós. O tal demônio estava causando problemas para humanos e deuses, e quando era atacado e ferido, multiplicava-se quando uma gota do seu sangue atingia o solo. Kali, ao ser invocada pelos deuses, engolia os demônios inteiros para que seu sangue não fosse derramado, e ao encontrar Raktabija e decepar sua cabeça, bebeu todo o seu sangue para que não surgissem mais demônios. O mal precisava ser digerido e transformado dentro, e não fora, porque se ele tocasse o solo, se multiplicaria. 

É interessante pensar que, simbolicamente, o solo representa o corpo. O mal que toca o corpo de fora pra dentro, sem consciência, se multiplica. A mulher que insiste em se submeter, sem nunca deixar de ser boazinha, é o solo fértil para que o mal floresça. Bert Hellinger disse: “O inocente não cresce”. Sem a decisão de cortar a cabeça do opressor, e assim também tomar, engolir, digerir a sua maldade, não existe libertação. É preciso deixar de ser solo fértil para receber maldade, e intencionalmente decepar a mentalidade que a sustenta. Não tem como se libertar e continuar sendo boazinha, e é daí que vem a má fama da Rainha de Espadas.

Duas dimensões são importantes no entendimento da Rainha de Espadas: a mente certa, que identifica e extirpa o mal, e decide fazer diferente, e o corpo que precisa aprender uma nova forma de ser/estar no mundo que não seja vinculada à obediência. A pessoa representada pela Rainha de Espadas, bem ou mal dignificada, está desconectada de seu corpo, ela é orientada pelo seu entendimento racional, quase como uma resposta traumática. Não é um estado natural e nem desejável, embora em alguns momentos seja necessário.

 

Traumas femininos transgeracionais

Numa perspectiva sistêmica, a Rainha de Espadas representa tanto o congelamento da dimensão corporal, emocional e instintiva femininas, quanto as consequências carregadas por seus filhos e filhas. A mãe que não abraça, não é afetuosa, tida como fria e egoísta pelos filhos já crescidos é a mulher que precisou, para sobreviver, parar de sentir e permanecer na dimensão do pensamento. 

A Rainha de Espadas na sombra

Sempre digo às minhas alunas que o aspecto sombra das cartas do tarot é aquela pessoa que parece, mas não “é” o que a carta significa. No caso da Rainha de Espadas, temos a pessoa que se apega à sua mente sem clareza, obedecendo às leis e aos critérios de outras pessoas, e que desligou suas dimensões emocional, corporal e instintiva, tornando-se fanática e amargurada, sem nunca reconhecer a causa do seu sofrimento ou libertar-se. 

A Rainha de Espadas no amor

Não é uma carta romântica, e nem transmite calor ou paixão. A Rainha de Espadas fala mais da frieza, do estabelecimento de limites e uma certa distância entre o casal. O comportamento da pessoa representada pela Rainha de Espadas é racional, mesmo quando parece emocional. Cuidado com chantagens emocionais e manipulação, quando a carta se apresenta em posição sombria. 

A Rainha de Espadas na vida profissional, financeira e planos futuros

Não é uma carta de realização de projetos financeiros em si mesma, mas quando aparece fala da necessidade de priorizar os próprios interesses, mesmo que desagrade as outras pessoas. 

Nas áreas profissional e para os planos a se realizar, fala que priorizar-se vai necessariamente atrair antipatia das pessoas ao redor, mas que isso é o certo a fazer. 

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