“Por que estou passando por isso de novo?” Essa é uma pergunta que ouço com frequência nos atendimentos de tarot, acompanhada de um olhar esperançoso de que as previsões para o futuro sejam melhores. Nesse artigo eu falei sobre o fato de que nós entramos numa história que já estava acontecendo quando nascemos, e como tendemos a ser arrastados por ela vida afora. Hoje você vai entender como a repetição é, na verdade, um mecanismo de sobrevivência.
Jordan Peterson, no livro 12 Regras Para a Vida – Um Antídoto Para o Caos, explica que os níveis de serotonina das lagostas é determinado por suas vitórias ou derrotas. Quando duas lagostas disputam um espaço, por exemplo, o resultado da batalha altera seus níveis de serotonina de maneiras diferentes. A lagosta vitoriosa recebe um aporte extra de serotonina, sua postura se torna mais aberta e corajosa e ela tende a entrar em novas disputas. A lagosta que foi derrotada, por outro lado, tem uma queda nos níveis de serotonina, assume uma postura retraída e tende a evitar novas disputas.
previsões para o futuro são as tendências presentes
Não somos lagostas, mas funcionamos de uma forma parecida. Nosso corpo também é afetado por nossas vitórias e derrotas, e paralelo à interpretação que fazemos dessas sensações corporais, tomamos decisões baseadas no instinto de sobrevivência. Quem vence uma batalha tende a enfrentar uma próxima. Quem perde uma batalha, tende a evitar novas batalhas e/ou entregar a luta cedo demais.

A Lagosta e A Lua: o resultado de batalhas passadas influencia a disposição da lagosta de entrar em novas disputas. No arcano A Lua, vemos o futuro repetir o passado, com as previsões para o futuro se referindo à continuação de histórias não resolvidas, onde medos e traumas imperam.
A qualidade de nossas relações, as posições profissionais que ocupamos, nossa relação com o dinheiro e até mesmo as áreas em que moramos são fortemente influenciadas pelos acontecimentos do passado. No tarô, encontramos uma referência ao mecanismo primitivo das lagostas no arcano 18 – A Lua. O significado dessa carta tem a ver com os medos e acontecimentos passados que influenciam a vida presente. Sallie Nichols em “Jung e o Tarô – uma jornada arquetípica” diz que “na Lua, o puxão regressivo da Mãe Natureza é simbolizado pelo lagostim, que vive nas profundezas e anda para trás.”
a repetição é uma estratégia de sobrevivência ancestral
O puxão da Mãe Natureza, a serotonina das lagostas, o lagostim andando para trás são metáforas para o instinto de sobrevivência, e esse instinto vem de longe. O biólogo britânico Rupert Sheldrake denominou “ressonância mórfica” o processo pelo qual o conhecimento de um certo número de indivíduos é agregado ao campo mórfico, influenciando os demais. O que aconteceu no passado tende a se repetir, e quanto mais se repete mais reforça o padrão, influenciando os indivíduos de um sistema de maneira cada vez mais abrangente. Somos influenciados pelos acontecimentos do passado, por nossas memórias e experiências pessoais e pelas memórias ancestrais.
Estudos sugerem a existência de memórias epigenéticas que nos ligam às dificuldades dos nossos antepassados (veja “Os filhos herdam o sofrimento dos pais” , “Por que nossos filhos poderiam herdar nossos vícios” e “Seu avô pode ser o culpado por você não conseguir emagrecer” ). Bert Hellinger constatou isso através do seu trabalho com o desenvolvimento das constelações familiares. Ele chamou de “amor cego” a lealdade inconsciente que nos mantém emaranhados ao destino difícil dos nossos antepassados.
O vídeo “Vida Maria” retrata a história se repetir geração após geração. No sertão, sem acesso à educação, as previsões para o futuro repetem o passado. A Roda da fortuna do Tarô Mitológico mostra o aspecto hereditário e cíclico do destino

Assim sendo, podemos concluir que o livre arbítrio é limitado pelo instinto de sobrevivência. Quando agimos no modo automático e inconsciente, nossa sabedoria interna procura no “arquivo” das memórias individuais e familiares as respostas que garantiram a sobrevivência no passado. A resposta instintiva parecerá a melhor ou a única alternativa diante de uma situação difícil. É assim que a repetição acontece sem que você perceba.
livre arbítrio vem com o despertar da consciência
Podemos concluir que o livre arbítrio é limitado pelo instinto de sobrevivência. A ação automática e inconsciente consiste em repetir o que ajudou a sobreviver no passado, como a lagosta que desiste de lutar. A resposta instintiva parecerá a melhor ou a única alternativa diante de uma situação difícil. É assim que você não consegue viver situações diferentes, pois sempre responde da mesma forma.
Quando prevemos o futuro no tarô, estamos lendo o resultado da ação automática, institntiva e repetitiva. Entendíamos isso como destino.Tornar-se consciente das respostas automáticas e instintivas é o primeiro passo para determinar o destino, ao invés de ser vítima dele. Enfrentar os desafios difíceis da vida sem se desviar para soluções aparentes e confortáveis é o que permite a liberdade de construir um destino diferente.
sair das repetições exige suportar o desconforto
Mas como sair das repetições? Uma boa saída é aprender a lidar com o desconforto, e perceber que ele é uma sensação corporal. Na palestra abaixo, a neurocientista Lisa Feldman explica como é possível reinterpretar essas sensações.
O pulo do gato é prestar atenção àqueles segundos antes de você tomar uma atitude porque não tinha outra escolha. Essa sensação de não ter outra escolha é o seu instinto de sobrevivência tentando te proteger. Você sente no seu corpo os sinais de um perigo chegando, e automaticamente responde com referência nas experiências anteriores. Você não percebe na hora, mas a repetição não é fora, é dentro. Fazer uma pausa, sentir e atravessar o desconforto, ressignificando e reinterpretando as situações é o que cria novas possibilidades.
Se você quer reconhecer seus padrões de repetição, clique aqui e saiba mais sobre o atendimento com o tarô integrativo sistêmico.